
QUEM FEZ VOCÊ CRER NO SUCESSO DA IGREJA SEGUNDO ESTE MUNDO?
O que Jesus veio fazer neste mundo teria falhado? Sim,
é justo que se pergunte isto ante o que Sua mensagem e feitos [...]
realizaram na experiência da existência histórica dos humanos ou
coletivamente na História humana?
É
verdade que Ele disse que o mundo odiaria a Sua Palavra e aos que por
ela vivessem; e também que a melhor chance que o mundo teria de crer que
Ele fora enviado pelo Pai seria mediante a prática simples do amor
entre os Seus seguidores; e mais: é também verdade que Ele parecia crer
que quando Ele voltasse outra vez [o Filho do Homem], não haveria fé na
Terra.
Também
é verdade que Ele disse que o Seu Caminho/Porta era estreito, e que
apenas poucos entrariam por ele; e também é fato que nas Suas mensagens
proféticas não se encontra nenhum traço de “vitória” associada ao que
Ele chamou de “minha Igreja” [...] como ente a impor-se sobre o mundo.
É
ainda inequívoco que Ele tenha dito que o futuro não aguardava os Seus
discípulos com nenhuma Era de Paz e de Amor entre os homens; ao
contrário, as Sua Palavras nos falam de ódio, divisão, de irmão
entregando irmão; de casas divididas; dos inimigos do homem serem os da
sua própria casa; e que Ele mesmo não viera trazer paz à Terra, mas
espada.
Sim,
a leitura das Palavras de Jesus não nos acende na alma a esperança de
controlarmos os poderes do mundo, nem das nações, e nem da Civilização
humana; antes disso, no indica um caminho de fé entre poucos, uma vereda
discreta, um pequenino rebanho, algo como o voar de vagalumes na
escuridão da noite.
Nos
evangelhos não encontramos essa Palavra de Vitória de Jesus sobre os
Poderes da História, sobre o Mundo; e nem tampouco qualquer insinuação
de que a Sua Igreja seria vitoriosa sobre as forças do Príncipe deste mundo como fenômeno de supremacia do bem sobre o mal.
Não, nem os evangelhos e nem o Apocalipse nos descrevem tais cenários. Portanto, outra vez, pergunto: de onde, pois, eles nos vieram, ao ponto de que hoje pensemos que alguma coisa tenha falhado?
Até
ao 4º Século desta Era nenhum discípulo cria que viveria para ver a
Igreja ser qualquer coisa além de um Fermento, uma Luz, um Sal na
vastidão da terra, um Pequeno Rebanho entre Lobos, uma pequena Semente
que cresceria como sombra e lugar de agasalho; mas não de triunfo.
Ora,
e isto tudo ainda em meio a divisões internas, a apostasias, a
negações, perversões e mortes espirituais de muitos grupos que, antes
haviam crido, mas que, ante a imposição “da espera” [...] perderiam a
fé; e, portanto, escandalizar-se-iam, trairiam, desistiriam; ou, então,
tornar-se-iam “maus” e aproveitadores dos demais — conforme várias
parábolas de Mateus, Marcos e Lucas nos deixam ver...
Todavia, o paradigma foi mudado
para sempre nas falsificações das esperanças da Igreja que foi virando
“igreja”, quando o Império Romano ungiu a “Igreja” e criou o
“Cristianismo” como poder terrestre e mundano.
É
daí que vem esse surto de Vitória Visível da Igreja de Jesus na Terra;
e, consequentemente, a busca por tal poder entre os homens —; ou, em
meio á frustração de não conseguir realizá-lo, a não ser pela espada e
pelas forças do Príncipe deste mundo, vem a descrença, o
sentimento de fracasso, de inviabilidade do Evangelho e da Igreja no
mundo; instalam-se como descrença e cinismo na alma dos que antes criam e
amavam.
Sim;
tal sentimento decorre de que a Igreja passou a pensar como “igreja”, e
de que o Evangelho tenha sido entendido como uma revolução inescapável a
impor-se sobre os principados e potestades dos sistemas do planeta.
Desse
modo, cada novo cristão se converte crendo que sua geração mudará o
mundo; e que o que não aconteceu no passado, acontecerá hoje; e mais:
crendo que a “vitória” da Igreja sobre o Império Romano provou tal
possibilidade [...]; não enxergando eles jamais o oposto; ou seja: que,
ali, naquela virada [ou melhor: naquela emborcada], quem estava
sendo definitivamente derrotada era aquilo que até então, com todos os
problemas previstos nas profecias, era, na sua fraqueza, forte; e na sua
fragilidade e falta de densidade, invencível; a saber: a Igreja na sua
melhor expressão histórica até então.
Sim, o Imperador Constantino se tornou o pai do sonho de supremacia da Igreja sobre o mundo; e, desde então, todos os grupos cristãos anelam pela volta de tais dias, ou mesmo pela reimplantação deles na sua geração. Daí os cristãos terem-se por tão honrados quando um governador se “converte”, ou quando uma “autoridade eclesiástica” é elevada de maneira pública, ou quando à “igreja” um poder politico atribua importância, significado e força histórica.
Jesus,
todavia, nunca nos deu a menor margem de crença em tais coisas até ao
fim. Jamais! O que Nele vemos é que apesar de tudo a Igreja não seria
destruída e que as Portas do Inferno não prevaleceriam contra ela; mas,
em momento algum, se vê Jesus afirmando que a Sua Igreja criaria um
Milênio; algo como um impor da verdade e do amor sobre as forças do
mundo e da história; ou ainda que ela tornar-se-ia reconhecida como o
Oráculo divino falando aos homens.
Ao
contrário, ao ouvirmos o que Jesus disse, o que percebemos é que tais
possibilidades de “vitória” sempre seriam sinais de apostasia da fé;
sempre seriam a declaração de que se teria aceito a cooptação das forças
do Príncipe deste mundo; sempre seria algo que apenas nos poria no lugar de ungir a Besta no papel de um Falso Profeta.
Para
Jesus, o reino de Deus não se manifestaria com demonstrações visíveis,
mas invisíveis e interiores; seria um poder no olhar, no espírito, na
existencialidade; seria algo somente discernível por quem tivesse
nascido da água e do espírito; e que aconteceria sempre sob o signo do
desprezo e das muitas batalhas.
Quanto
a não permitir que qualquer impressão de supremacia da Igreja como
Potestade se instalasse na mente dos Seus discípulos, Ele afirmou: “Não será assim entre vós; antes, o maior seja o menor; o grande seja o que sirva; o poderoso seja o fraco do amor e da entrega”. E, lhes lavando os pés, disse: “Compreendeis o que vos fiz? Eu vos dei o exemplo!”
Pedro já advertia os discípulos dos seus dias, e que começavam a sofrer e a perguntar quando seria o tempo da vitória,
dizendo-lhes que não lhes parecesse que algo teria dado errado, posto
que o Senhor lhes garantisse que seria como estava justamente
acontecendo...; e disse também que por tal equivoco de esperança
surgiriam muitos perguntando “onde está a esperança da Sua vinda?”;
ou mesmo indagariam acerca do “poder da Sua Presença” entre os
homens...; visto que tudo continuara como desde o principio da criação
que se pervertera.
Em
Mateus 24 e 25 todas as Parábolas de Jesus nos falam de uma “espera”
devastadora e desalentadora; de tal modo que alguns ficariam “maus e
abusivos”, outros “dormiriam de desesperança”, outros “enterrariam seus
dons de amor”, outros somente O veriam em “cenários sagrados” ou
predeterminados; daí não serem capazes de vê-Lo entre os pobres,
marginalizados, desterrados, doentes, abandonados e não desejados desta
existência.
O
fenômeno da Hermenêutica Constantiniana de interpretação do significado
histórico da “Igreja” foi algo tão poderoso, e continua a ser, que,
para muitos, parece que a mensagem de Jesus falhou; especialmente agora,
quando o mundo se torna pós-cristão; ou seja: torna-se
pós-constantiniano.
Jesus,
no entanto, nos disse que a Igreja estaria aqui; e que testemunharia; e
que morreria; e que não desistiria; e que não seria enganada; e que não
viveria de contabilidades de poder humano; mas da força do Espírito e
do olhar do Reino instalado nos corações de todos os que viram e
entraram no Mistério do Indiscernível do Reino de Deus em sua atual
manifestação não disponível ao mundo.
Enquanto
isto [...], Jesus disse que o Espírito sopra aonde quer... [...], e que
ninguém sabe de onde Ele vem ou para onde Ele vai... [...];
mostrando-nos assim que a Igreja é um ente levado [...]; e que para além
do que ela própria veja [...], existe o que somente Deus vê; coisas
essas nas quais os discípulos têm apenas que crer; crer enquanto servem,
amam, esperam, se entregam, se sacrificam; nunca se deixando vencer do
mal, mas sempre vencendo, em suas vidas, o mal com o bem.
É,
portanto, o espírito do mundo, de Satanás, do Príncipe que oferece
poderes terrenos [...] — aquele nos lança em surtos de “vitória terrena
da Igreja” sobre as aparentes forças da História.
É
a mesma voz que se fez ouvir no “alto monte” ou no Capitólio Romano nos
dias de Constantino [...] a nos falar que existe um mundo a ser
“conquistado” pela Igreja de Deus!
Para
a verdadeira Igreja de Deus este mundo, com seus poderes, é apenas o
lugar da morte, do sacrifício, do testemunho, do amor não correspondido e
do serviço por nada; exceto pela obediência; posto que assim como foi
com Jesus seria conosco; e isto conforme Ele próprio disse e repetiu em
inúmeras formas e ocasiões diferentes.
Se
esse paradigma diabólico, completamente presente nas falsas esperanças,
no discurso e na prática da “igreja”, não der lugar ao que Jesus disse
que seria e aconteceria [...], até mesmo a verdadeira Igreja terá seu
poder minado pelo engano; havendo cada dia menos luzes de esperança e
gosto de sal no testemunho do amor neste planeta marcado para o Grande
Dia da Revelação.
Eu,
porém, enquanto escrevo estas linhas, sinto o vento, e percebo seu
bulício; por vezes mudando de direções [...], mas sinto que ele sopra em
sua independência, visto que vejo o mover das árvores; sim, balançando
ora pra lá, ora pra cá; e, algumas vezes, como agora, aparentemente
parando de moverem-se... Mas eis que outra vez vem o vento!... Agora uma
brisa sob meus pés... Sim! O mover não cessa nunca!
Desse modo entendo meu lugar na vida e no mundo segundo Jesus!
Sim,
não sou o Gerente do Vento; nem sou o indicador do seu caminho; nem
tampouco aquele que sabe quando e de onde ele virá. Não! Apenas o
constato. Apenas o aproveito. Apenas celebro sua soberania invisível. E,
conforme disse Jesus, apenas creio que do mesmo modo é todo aquele que é
nascido do Espírito.
A
Palavra de Jesus, portanto, não falhou; ao contrário, contra todos os
esforços miseráveis, armados e dispostos a recorrer a todos os poderes
deste mundo [conforme o tem feito o “Cristianismo” e ou a “Igreja” em
todo este tempo], a Palavra de Jesus se impôs e prevaleceu; posto que
ela teria falhado justamente se o Caminho dos Discípulos tivesse se
tornado a Política Global deste Planeta; ou seja: se a ONU dissesse que é
da “igreja” que procede a honra, a glória e o poder. Então era sinal de
que o reino do anticristo estaria de fato definitivamente instalado.
Nele,
que não nos deixou enganados quanto ao que fosse vitória e sucesso no
andar do Reino, do Evangelho e da verdadeira Igreja de Deus,
Caio
15 de janeiro de 2012
Lago Norte
Brasília
DF
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