sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Lipoaspiração Divina

Pastor emagrece pessoas com oração

Tudo é possível àquele que crê”. São com essas palavras que o pastor César Peixoto, 52 anos, inicia o seu culto na Casa da Benção, na avenida Getúlio Vargas, no bairro Bandeirantes, Cariacica. É no culto do pastor César, que geralmente acontece em Campo Grande, Cariacica, que os fiéis fazem fila para a lipoaspiração divina. Com o poder da oração, o pastor promete fazer com que os fiéis percam de 10 a 15 quilos em poucos minutos.
Com gritos de “pessoas obesas sejam curadas!”, o pastor comanda um grupo de 40 pessoas que procuram na oração uma solução não só para os problemas de peso, mas também para os males de saúde.
“Oro pelos doentes há mais de 20 anos e vi coisas incríveis acontecerem. Vi gente entrando no culto de cadeira de rodas e ir embora andando”, contou.
No caso da lipoaspiração divina, durante o culto o pastor solicita que todas as pessoas que desejam perder peso se dirijam ao altar e façam uma fila.
Nesse momento, ele avisa que vai fazer uma oração e que as pessoas vão se sentir anestesiadas. Algumas até caem no chão. O pastor diz que ao acordarem, poderão
sentir a diferença em suas roupas. “A anestesia de Adão é um dom que Deus me deu. Vocês vão fechar os olhos agora e poderão me ouvir, mas não vão conseguir se mexer. Vocês vão sentir uma leveza no corpo e vão adormecer. Seja qual for a causa da sua obesidade, creiam no poder de Deus”, disse o pastor para as fiéis que queriam perder peso.
A psicopedagoga Vanessa Corteletti, 30 anos, contou que procurou o culto porque precisava curar uma dor muscular no braço. Chegando lá, se deparou com a possibilidade de perder uns quilinhos com a ajuda da fé e aprovou o procedimento. “ Vim para o culto com outro objetivo, mas gostei do que vi. Pretendo voltar mais vezes para pedir outras bênçãos e quem sabe conseguir emagrecer?”, disse Vanessa que afirmou que seu braço não estava mais doendo.
Leia a entrevista concedida pelo pastor ao jornal A Tribuna
A TRIBUNA – Há quanto tempo o senhor faz a lipoaspira-ção divina? Como o senhor conheceu essa prática?
PASTOR – Há 20 anos faço a lipoaspiração divina com os meus
seguidores. Tudo começou com uma vigília que fiz no Monte da Caixa D’Água em Queimados, na Serra, com outras pessoas. Foi ali que percebi que, quando eu orava, todas as pessoas dormiam e quando acordavam, percebiam que as roupas estavam mais largas.
Algum caso foi considerado marcante?
Tem um caso que nunca esqueço. Tinha uma mulher que morava em Linhares e pesava 200 quilos. Com a oração ela conseguiu controlar a fome que sentia e começou a emagrecer. Durante seis meses, ela emagreceu 100 quilos. Obesidade é doença.
A prática é  vista com  desconfiança pelas pessoas?
Sempre digo para as pessoas que a nossa mente não entende, mas a nossa fé explica como podemos.
Confira alguns testemunhos de pessoas que passaram por milagres promovidos pela oração.
“Fiquei muito surpresa”
A secretária escolar Rosalina Corteletti, 54, participou da oração da lipoaspiração divina e contou que, apesar de não ter visto diferença, sentiu uma leveza muito grande. “Senti uma dormência nos pés, uma paz muito grande. Não senti muita diferença no meu manequim, mas fiquei muito surpresa com o procedimento. Acredito que das próximas vezes já terei um resultado. Foi uma bênção ter vindo aqui hoje.”
Diferença nas medidas
A comerciante Sandra Santos, 30 anos, mora em Viana e foi pela primeira vez no culto do pastor César. Ela contou que engordou nos últimos meses e, por isso, procurou na lipoaspiração divina a solução para emagrecer. Ao final do culto, ela contou que sentiu diferença. “ Na hora da oração, me senti leve e dormi profundamente. Cheguei até a deitar no chão. Quando acordei, vi que a minha bermuda não estava mais apertada”.
Seios menores
A comerciante Cátia Oliveira, 40, frequenta há 10 anos os cultos de cura espiritual. Segundo ela, a lipoaspiração divina vai ajudá-la a diminuir o tamanho dos seios. “Posso garantir que tudo o que acontece no culto é verdadeiro. Já tive um câncer curado pela fé e acredito que vou conseguir ter meus seios menores.”

Fonte: A Tribuna

terça-feira, 31 de janeiro de 2012

As bem-aventuranças dos "pastores idiotas"





Pastor Geremias do Couto.

Bem-aventurados sois vós, "pastores idiotas", quando fordes xingados com este epíteto simplesmente por acreditardes no que disse Jesus: "Não ajunteis tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem consomem, e onde os ladrões minam e roubam" (Mateus 6.9). Tal ato insano, ao invés de vos maldizer, mostra que ainda estais firmes na verdade.

Bem-aventurados sois vós, "pastores idiotas", que não sucumbistes aos "encantos" da teologia da prosperidade por compreender que "os que querem ser ricos caem em tentação, e em laço, e em muitas concupiscências loucas e nocivas, que submergem os homens na perdição e ruína" (1 Timóteo 6.9). Não vos entristeçais, nem penseis que estais sozinhos. Há muitos outros "idiotas" convosco, inclusive o apóstolo Paulo.

Bem-aventurados sois vós, "pastores idiotas", por não vos curvardes aos arautos que vos maltratam em virtude de crerdes que aos ricos deste mundo a Palavra de Deus ordena: "Não sejam altivos, nem ponham a esperança na incerteza das riquezas" (1 Timóteo 6.7). Tal maldição é, na verdade, um reconhecimento de que pondes a vossa confiança não nas riquezas desta vida, mas na abundância que vos é dada para a glória de Deus.

Bem-aventurados sois vós, "pastores idiotas", que resistis aos apelos dos que vos querem enredar com o brilho do ouro que perece, porque vós bem sabeis que é vosso dever continuardes a ensinar às suas ovelhas "que façam o bem, enriqueçam em boas obras, repartam de boa mente, e sejam comunicáveis" (1 Timóteo 6.18). Saibais que outros "pastores idiotas" iguais a vós foram já recebidos na glória e aguardam o precioso galardão.


Bem-aventurados sois vós, "pastores idiotas", porque não perdestes a visão da semeadura e, por isso mesmo, sabeis que não se ganham almas com o glamour das riquezas humanas, mas com a sementeira do evangelho. Sem esquecerdes da advertência da parábola do semeador, que diz: "Os cuidados deste mundo, e a sedução das riquezas sufocam a palavra, e fica infrutífera" (Mateus 13:22)

Bem-aventurados sois vós, "pastores idiotas", por não perfilardes o triunfalismo da pregação humanista, centrada no homem, que enriquece a quem prega e defrauda a quem ouve. Ainda que vos pareça estardes "fora do modelo contemporâneo", alegrai-vos porque continuais apegados ao modelo bíblico, que diz: "Mas longe esteja de mim gloriar-me, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim e eu para o mundo" (Gálatas 6.14).

Bem-aventurados sois vós, "pastores idiotas", que embora injuriados pela vossa pregação "arcaica", ainda carregais no bolso do vosso coração a credencial de servo do Altíssimo, enquanto alguns já a trocaram pelas credenciais de semideus, arrogante e soberbo e usam-na ao sabor das circunstâncias para se locupletarem em cima da lã de suas ovelhas.

Bem-aventurados sóis vós, "pastores idiotas", que, enquanto alguns voam os céus do mundo em modernos jatinhos, trafegam as grandes avenidas em luzentes automóveis e se deleitam nos mármores de grandes mansões, o vosso prazer é estar junto das ovelhas, alegrardes com elas e, se preciso for, dar por elas a vossa própria vida. Não vos esqueçais que outros "idiotas" iguais a vós se encontram já no Reino do Pai.


Bem-aventurados sois vós, "pastores idiotas", que preferis o "prejuízo" da coerência, da fidelidade a toda prova aos princípios imutáveis da Palavra de Deus, do que sucumbirdes - ainda que tentados - às lentilhas que se vos oferecem para amenizar eventuais necessidades imediatas. Mais vale o pão dormido da consciência tranquila do que os banquetes da consciência aprisionada.


Bem-aventurado sois vós, "pastores idiotas", pelo modo como sois tratados por amor do nome do Senhor e por não vos enredardes pelo brilho passageiro da glória humana. Não sois melhores por isso, mas também não sois piores. Todavia, enchei o vosso coração de alegria porque o vosso nome faz parte da galeria dos heróis da fé que professam somente a Cristo e têm Deus como o bem maior da vida. Tende como lema o que Paulo ensinou: "Regozijai-vos sempre no Senhor; outra vez digo, regozijai-vos" (Filipenses 4.4).


Assina um "idiota" como todos vós.

In: cirozibordi.blogspot.com


O texto acima é uma resposta a entrevista concedida pelo pastor Silas Malafaia a Revista Igreja.


Trecho da entrevista feita pela revista Igreja ao pastor Silas Malafaia.

Pergunta:

Resposta do pastor Malafaia: 

“Primeiro quem fala isto é um idiota! Desculpe a expressão, mas comigo não tem colher de chá! Por que quando é membro eu quebro um galho, mas pastor não: é um idiota. Deveria até mesmo entregar a credencial e voltar a ser membro e aprender. Para começar não sabe nada de teologia, muito menos de prosperidade. Existe uma confusão e um radicalismo, e todo radicalismo não presta”.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

PIRATARIA - Quem nunca baixou um arquivo que atire a primeira pedra!


Por Hermes C. Fernandes

As siglas S.O.P.A e P.I.P.A. têm dado muito o que falar entre os internautas brasileiros nos últimos dias. Apesar de tratar-se de projetos leis americanos, sabemos que geralmente o que se faz por lá, acaba afetando o resto do mundo. 

O Stop Online Piracy Act (SOPA, da sigla em inglês) propõe significativas alterações na forma de combate a pirataria no ambiente da internet. O projeto de lei permitiria ao Departamento de Justiça dos EUA investigar, perseguir e desconectar qualquer pessoa ou empresa acusada de disponibilizar na rede sem permissão material sujeito a direitos autorais dentro e fora do país afetando inclusive empresas brasileiras. A lei também obrigaria aos sites de busca, provedores de domínios e empresas de publicidade americanas a bloquear os serviços de qualquer site que esteja sob investigação do Departamento de Justiça por ter publicado material violando os direitos de propriedade intelectual.

Já o PIPA (Protect Intellectual Property Act), propõem penas de até cinco anos de cadeia para pessoas condenadas por compartilhar material pirateado 10 ou mais vezes ao longo de seis meses. Suas propostas também preveem punições para sites acusados de “permitir ou facilitar” a pirataria. Em tese, um site pode ser fechado apenas por manter laços com algum outro site suspeito de pirataria.

Não deve demorar muito para que o congresso brasileiro siga os mesmos passos do americano, tentar impor aos nossos internautas uma espécie de censura, semelhante à aplicada na China, Irã e Síria. A diferença está na justificativa usada: impedir a pirataria on-line. Ou seja: combater práticas sociais historicamente usadas pelas pessoas para acessar a qualquer obra cultural, como intercambiar, compartilhar, emprestar, etc., mesmo antes que a internet fosse inventada.

Na última semana (19/01), o governo dos Estados Unidos fechou o site de compartilhamento de arquivos MegaUpload, acusando o serviço de facilitar a troca de conteúdo protegido por direitos autorais e prendendo seus fundadores e funcionários por incentivar a pirataria.

Em represália ao fechamento do serviço, e também como forma de protesto ao SOPA e ao PIPA, o grupo hacker conhecido como Anonymous promoveu a sua maior ação. Em poucas horas, conseguiram derrubar os sites da RIAA (Record Industry Association of America), da MPAA (Motion Picture Association of America), da Universal Music (responsável pela acusação de pirataria do Megaupload), do Departamento de Justiça dos Estados Unidos, do US Copyright Office, da Warner Music Group e até mesmo o do FBI. 

Com a retirada do Megaupload, milhões de pessoas que usavam o site para armazenar seus arquivos foram prejudicadas. Eu mesmo fui prejudicado, pois mantinha mais de uma centena de arquivos em vídeos de mensagens pregadas em congressos, convenções e outros eventos.

Também na última semana (17/01), a Wikipédia saiu do ar, cumprindo a promessa feita no dia anterior, quando anunciou um “apagão” de 24 horas para protestar contra as leis antipirataria que tramitam no Congresso dos Estados Unidos.

O texto na capa do site diz o seguinte:

Imagine um mundo sem conhecimento livre. Por mais de uma década, gastamos milhões de horas construindo a maior enciclopédia da história da humanidade. Neste momento, o Congresso dos Estados Unidos está debatendo uma legislação que poderia prejudicar fatalmente a internet livre e aberta. Por 24 horas, para chamar a atenção sobre o assunto, estamos realizando um apagão na Wikipédia.

A própria Casa Branca criticou os projetos de leis. Durante o último fim de semana, três especialistas em tecnologia da administração Obama divulgaram um comunicado em que reconhecem a necessidade de controlar a pirataria online, mas criticaram o SOPA e o PIPA. 

Espero, sinceramente, que esta pipa não decole, e que caia logo uma mosca nesta sopa, tornando-o intragável. E isso deve acontecer logo, logo, por conta do forte lobby patrocinado pelas empresas do Vale do Silício.

Enquanto isso, cá pelas terras tupiniquins, gravadoras seculares de peso contratam cantores evangélicos, por acreditarem que o filão por eles representado constituiria numa espécie de reservatório moral, que abominaria qualquer tipo de pirataria. Do outro lado, gravadoras, emissoras e cantores deste seguimento fazem campanhas abertas afirmando que pirataria não é apenas crime, mas também pecado. O que no meio secular é tratado mercadologicamente, no meio evangélico recebe um peso moral e espiritual. Alguns chegam a dizer em debates radiofônicos que quem compra material pirateado não vai pro céu. Desta maneira, os artistas gospel estão se impondo no mercado fonográfico como campeões de venda. É claro que isso não passaria despercebido pela indústria do entretenimento. 

Apesar de ser um problema característico do nosso tempo, haveria alguma instrução bíblica que poderia ser aplicada?

Se piratear é apropriar-se indevidamente de uma propriedade intelectual, logo é roubo, prática vastamente condenada pelas Escrituras. Mas será tão simples assim, preto no branco? Não haveria uma área meio cinzenta?

Se os textos escritos pelos apóstolos e profetas não fossem extensivamente copiados, teriam chegado até nós? E será que os copistas tiveram que pagar direitos autorais? Quanto deveria custar uma cópia autêntica de uma epístola paulina no mercado negro?

A sociedade para a qual os princípios éticos das Escrituras foram propostos inicialmente era econocomicamente agrícola. Por muitos séculos a base de sua sobrevivência foi a coleta. Tudo o que fosse encontrado no caminho podia ser adquirido com um simples estender das mãos.  Ainda hoje, ninguém tem uma crise moral por ter catado uma manga encontrada na calçada. Ninguém vai se dar o trabalho de tocar a campanhia do vizinho, importunando-o para devolver-lhe a goiaba que caiu do pé cuja raiz está em seu quintal, mas cujos ramos se estendem na direção da rua. Não se trata de desonestidade, mas de uma convenção social implícita, um trato silencioso entre os humanos.

Porém, quando a Lei de Deus foi outorgada, a sociedade humana estava na transição entre a coleta e o cultivo sistemático (agricultura). Mesmo defendendo o direito à propriedade privada, a Lei faz certa concessão à velha e ingênua prática da coleta. Talvez tal precedente lance alguma luz sobre a questão da pirataria na internet. Afinal,  cultura (que é o que a internet pretende divulgar) é uma expressão agrícola.

Lei para quem compartilha

“Quando entrares na vinha do teu próximo, comerás uvas conforme ao teu desejo até te fartares, porém não as porás no teu cesto. Quando entrares na seara do teu próximo, com a tua mão arrancarás as espigas; porém não porás a foice na seara do teu próximo.” Deuteronômio 23:24-25

Qualquer transeunte que atravessasse uma plantação poderia coletar o produto para consumi-lo de imediato, mas não para armazená-lo, o que indicaria a intenção de comercializá-lo mais tarde. E não havia limites. Poderia comer até se fartar. Usufruir, sim, mas não lucrar em cima disso. Poderia colher as espigas com as mãos, mas não com a foice.

Trazendo este princípio para o espaço cibernético, poderíamos dizer que é lícito usufruir de tudo o que estiver acessível na rede, desde que para isso, bastasse o click no mouse, jamais tendo que usar mecanismo de quebra de segurança, geralmente usado por hackers. Mãos, sim. Foice, não. Está disponível? Tudo bem. É lícito (ainda que não convenha…). Mas se está protegido, deve ser respeitado. O que não se pode é acessar, copiar, e depois, obter lucro com a venda do material. Isso seria desonesto.

Lei para quem produz

Quando também fizerdes a colheita da vossa terra, o canto do teu campo não segarás totalmente, nem as espigas caídas colherás da tua sega. Semelhantemente não rabiscarás a tua vinha, nem colherás os bagos caídos da tua vinha; deixá-los-ás ao pobre e ao estrangeiro. Eu sou o SENHOR vosso Deus.” Levítico 19:9-10

Quem produz informação (propriedade intelectual, cultura) deve permitir que pelo menos parte dela fique acessível àqueles que não dispõem de recursos. Mas infelizmente não é isso que acontece. A ganância não nos permite compartilhar sem visar algum ganho. O segredo de sites como o Wikipédia é justamente disponibilizar informações gratuitamente. O lucro vem da publicidade, e não do conteúdo. Muitos outros sites, inclusive de jornais, revistas e TV, têm seguido o mesmo caminho. O Youtube, o google, e as redes sociais são um exemplo disso. Alguns, como o Megaupload, oferecem contas premium pagas para seus usuários, onde é possível baixar ou dar upload em arquivos com maior rapidez. Mas quem não pode pagar, não fica impedido de desfrutar de seus serviços.

Quando no teu campo colheres a tua colheita, e esqueceres um molho no campo, não tornarás a tomá-lo; para o estrangeiro, para o órfão, e para a viúva será; para que o SENHOR teu Deus te abençoe em toda a obra das tuas mãos. Quando sacudires a tua oliveira, não voltarás para colher o fruto dos ramos; para o estrangeiro, para o órfão, e para a viúva será. Quando vindimares a tua vinha, não voltarás para rebuscá-la; para o estrangeiro, para o órfão, e para a viúva será.”
"Deuteronômio 24:19-21

Ah se aqueles que detêm e controlam os meios de produção e distribuição pensassem e agissem assim. Em vez disso, eles não abrem mão de nada. A avareza é a sua bandeira. A ordem do dia é otimizar os lucros e minimizar as perdas. Se Deus condena a pirataria (digo aquela descarada, em que as pessoas se apropriam indevidamente de material intelectual para obter lucro), Ele igualmente condena a avareza de quem impede que os menos favorecidos tenham acesso à produção cultural.

Temos o direito de proteger o que produzimos. Porém, quando houver algum descuido, e algo do que produzimos ficar vulnerável, vazar na rede, devemos entender que isso pode ter sido permitido por Deus para benefícios de outros. O que para nós foi acidental, para outros será providencial. 


O que precisamos é de uma mudança de paradigma. Não dá pra viver com uma mentalidade retrógrada em pleno século da informação. Deixe-me compartilhar um trecho extraído do livro "Reiventando o capital/dinheiro" de Rose Marie Muraro (Idéias e Letras 2012) que li recentemente no blog de Leonardo Boff e creio que possa enriquecer nossa reflexão:
Na Pré-História predominava o ganha/ganha. Vigorava o escambo, isto é, a troca de produtos. Reinava grande solidariedade entre todos. No Período Agrário entrou o dinheiro/moeda. Os donos de terras produziam mais, vendiam o excedente. O dinheiro ganho era emprestado a juros. Com os juros entrou o ganha/perde. Foi uma bacilo que contaminou todas as transações econômicas posteriores. No Período Industrial esta lógica se radicalizou pois o capital assumiu a hegemonia e estabeleceu os preços e as taxas dos juros compostos. Como o capital está em poucas mãos, cresceu o perde/ganha. Para que alguns poucos ganhem, muitos devem perder. Com a globalização, o capital ocupou todos os espaços. No afã de acumular mais ainda, está devastando a natureza e aumentando o fosso ricos/pobres. Agora vigora o perde/perde, pois tanto o dono do capital como a natureza saem prejudicados. No Período da Informação criou-se a chance de um ganha/ganha, pois a natureza da informação especialmente da Internet é possibilitar que todos se relacionem com todos.
Queira Deus que o espaço cibernético não perca tal característica, proporcionando à sociedade humana a oportunidade de vivenciar o paradigma ganha/ganha. Afinal, ninguém precisa perder para que outros ganhem. E na partilha de informação e cultura, todos somos beneficiados. 


Minha intenção com este texto não é oferecer uma resposta final ao problema, que é bem mais complexo do que possamos averiguar aqui,  mas tão somente instigar uma reflexão mais ampla e profunda da questão e de suas implicações. Sei que meu posicionamento pode parecer um tanto quanto heterodoxo, ainda que, a meu juízo, respaldado nas Escrituras, mas deixando de lado a hipocrisia... quem nunca baixou um arquivo que atire a primeira pedra!

Fonte: Hermes C. Fernandes
http://www.hermesfernandes.com/2012/01/pirataria-quem-nunca-baixou-um-arquivo.html

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

A Cabana – O fim do discernimento evangélico

por Albert Mohler Jr.


Albert Mohler
O mundo editorial vê poucos livros alcançarem o status de blockbuster, mas A Cabana, de William Paul Young já ultrapassou esse ponto. O livro, originalmente auto-publicado por Young e mais dois amigos, já vendeu mais de 10 milhões de cópias e foi traduzido para em mais de trinta línguas. Já é um dos livros mais vendidos dois últimos tempos, e seus leitores são muito entusiasmados.
De acordo com Young, o livro foi escrito originalmente para seus filhos. Essencialmente, a história pode ser descrita como uma teodicéia narrativa – uma tentativa de responder às questões sobre o mal e o caráter de Deus por meio de uma história. Nessa história, o personagem principal está enfrentando grande sofrimento após o seqüestro e homicídio brutal de sua filha de sete anos, quando recebe um convite que se torna um chamado de Deus para encontrá-lo na mesma cabana onde sua filha foi assassinada.
Na cabana, “Mack” se encontra com a divina Trindade: “Papa”, uma mulher afro-americana; Jesus, um carpinteiro judeu; e “Sarayu”, uma mulher asiática revelada como sendo o Espírito Santo. O livro é na maior parte uma série de diálogos entre Mack, Papa, Jesus e Sarayu. Essas conversas revelam um Deus bem diferente do Deus da Bíblia. “Papa” é alguém que nunca faz algum julgamento e parece muito determinado em afirmar que toda a humanidade já foi redimida.
A teologia de A Cabana não é incidental na história. De fato, em muitos pontos a narrativa parece servir apenas como estrutura para os diálogos. E os diálogos revelam uma teologia que é, no mínimo, inconvencional e indubitavelmente herética sob alguns aspectos.
Enquanto o dispositivo literário de uma “trindade” incomum das pessoas divinas é em si mesmo sub-bíblico e perigoso, as explicações teológicas são piores. “Papa” fala a Mack sobre o momento em que as três pessoas da Trindade “se manifestaram à existência humana como o Filho de Deus”. Em lugar algum da Bíblia se fala sobre o Pai ou o Espírito vindo à existência humana. A Cristologia do livro é semelhantemente confusa. “Papa” diz a Mack que, mesmo Jesus sendo completamente Deus, “ele nunca dependeu de sua natureza divina para fazer alguma coisa. Ele apenas viveu em relacionamento comigo, vivendo da mesma maneira que eu desejo viver em relacionamento com todos os seres humanos”. Quando Jesus curou cegos, “Ele o fez apenas como um ser humano dependente e limitado, confiando em minha vida e meu poder trabalhando nele e através dele. Jesus, como ser humano, não tinha poder algum em si para curar qualquer pessoa”.
Há uma extensa confusão teológica para desbaratar aí, mas é suficiente dizer que a igreja cristã tem lutado por séculos para ter um
A Cabana, por William P. Young
A Cabana, por William P. Young
entendimento fiel da Trindade para evitar exatamente esse tipo de confusão – um entendimento que põe em risco a própria fé cristã.
Jesus diz a Mack que é “a melhor forma para qualquer humano se relacionar com Papa ou Sarayu”. Não o único caminho, mas apenas o melhor caminho.
Em outro capítulo, “Papa” corrige a teologia de Mack ao afirmar “Eu não preciso punir as pessoas pelo pecado. O pecado é a própria punição, te devorando por dentro. Não é meu propósito puni-lo; minha alegria é curá-lo”. Sem dúvida alguma, o prazer de Deus está na expiação alcançada pelo Filho. Entretanto, a Bíblia revela consistentemente que Deus é o santo e correto Juiz, que irá de fato punir pecadores. A idéia de que o pecado é meramente “a própria punição” se encaixa no conceito oriental de karma, não no evangelho cristão.
O relacionamento do Pai com o Filho, revelado em textos como João 17, é rejeitado em favor de uma igualdade absoluta de autoridade entre as pessoas da Trindade. “Papa” explica que “nós não temos nenhum conceito de autoridade final entre nós, apenas unidade”. Em um dos parágrafos mais bizarros do livro, Jesus fala para Mack: “Para está tão submisso a mim como eu estou a ele, ou Sarayu a mim, ou Para a ela. Submissão não tem a ver com autoridade e não é obediência; tem a ver com relacionamentos de amor e respeito. Na verdade, somos submissos a você da mesma forma”.
A submissão da trindade a um ser humano – ou a todos os seres humanos – teorizada aqui é uma inovação teológica do tipo mais extremo e perigoso. A essência da idolatria é a auto-adoração, e a idéia de que a Trindade é submissa (de qualquer forma) à humanidade é indiscutivelmente idólatra.
Os aspectos mais controversos da mensagem do livro envolvem as questões de universalismo, redenção universal e reconciliação total. Jesus diz a Mack: “Aqueles que me amam vêm de todos os sistemas existentes. São Budistas ou Mórmons, Batistas ou Muçulmanos, Democratas, Republicanos e muitos que não votam ou não fazem parte de qualquer reunião dominical ou instituição religiosa”. Jesus acrescenta, “Eu não tenho nenhum desejo de torná-los cristãos, mas apenas acompanhá-los em sua transformação em filhos e filhas do meu Papa, em meus irmãos e irmãs, meus Amados”.
Mack faz então a pergunta óbvia – todos os caminhos levam a Cristo? Jesus responde “muitos caminhos não levam a lugar algum. O que significa que eu vou caminhar por qualquer caminho para te achar”.
Dado o contexto, é impossível não tirar conclusões essencialmente universalistas ou inclusivistas sobre o pensamento de William Young. “Papa” diz a Mack que ele está reconciliado com todo o mundo. Mack questiona: “Todo o mundo? Você quer dizer aqueles que acreditam em você, certo?”. “Para” responde “O mundo inteiro, Mack”.
Karl Barth
Karl Barth

Tudo isso junto leva a algo muito parecido com a doutrina da reconciliação proposta por Karl Barth. E mesmo que Wayne Jacobson, colaborador de William Young, tenha lamentado que a “auto intitulada polícia doutrinária” tenha acusado o livro de ensinar a reconciliação total, ele reconhece que as primeiras versões dos manuscritos eram muito influenciadas pelas convicções “parciais, na época” de Young na reconciliação total – o ensino de que a cruz e a ressurreição de Cristo alcançaram uma reconciliação unilateral de todos os pecadores (e toda a criação) com Deus.
James B. DeYoung, do Western Theological Seminary, especialista em Novo Testamento que conhece William Young há anos, afirma que Young aceita uma forma de “universalismo cristão”. A Cabana, ele afirma, “está fundamentado na reconciliação universal”.
Mesmo quando Wayne Jacobson e outros reclamam daqueles que identificam heresias em A Cabana, o fato é que a igreja Cristã identificou explicitamente esses ensinamentos exatamente como são – heresia. A questão óbvia é: Como é que tantos cristãos evangélicos parecem não apenas serem atraídos para essa história, mas para a teologia apresentada na narrativa – uma teologia que em muitos pontos conflita com as convicções evangélicas?
Observadores evangélicos não estão sozinhos nessa questão. Escrevendo em The Chronicle of Higher Education (A Crônica da Alta Educação N. T.), o professor Timothy Beal da Case Western University argumenta que a popularidade de A Cabana sugere que os evangélicos talvez estejam mudando sua teologia. Ele cita os “modelos metafóricos não bíblicos de Deus” do livro, assim como o “não hierárquico” modelo da Trindade e, mais importante, “a teologia da salvação universal”.
Beal afirma que nada dessa teologia é parte da “teologia evangélica tradicional”, e então explica: “De fato, todas as três estão enraizadas no discurso acadêmico radical e liberal dos anos 70 e 80 – trabalho que influenciou profundamente a teologia da libertação e o feminismo contemporâneo, mas, até agora, teve pouco impacto nas conjecturas teológicas não acadêmicas, especialmente dentro do meio religioso tradicional”.
Ele então pergunta: “O que essas idéias teológicas progressivas estão fazendo dentro desse fenômeno evangélico pop?”. Resposta: “Poucos de nós sabemos, mas elas têm sido presentes nas margens liberais do pensamento evangélico por décadas”. Agora, continua, A Cabana tem introduzido e popularizado esses conceitos liberais mesmo em meio aos evangélicos tradicionais.
Timothy Beal não pode ser considerado apenas um “caçador de heresias” conservador. Ele está empolgado com a forma que essas “idéias teológicas progressivas” estão “se infiltrando na cultura popular por meio dA Cabana”.
De forma similar, escrevendo em Books & Culture (Livros & Cultura N.T.), Katherine Jeffrey conclui que A Cabana “oferece uma teodicéia pós-moderna e pós-bíblica”. Enquanto sua maior preocupação é o lugar do livro “em um cenário literário cristão”, ela não pode evitar o debate dessa mensagem teológica.
Lendo A Cabana
"A resposta não é banir A Cabana ou tirá-lo
das mãos dos leitores"

Ao avaliar o livro, deve manter-se em mente que A Cabana é uma obra de ficção. Mas é também um argumento teológico, e isso não pode ser negado. Um grande número de romances e obras de literatura notáveis contém aberrações teológicas e até heresias. A questão crucial é se a aberração doutrinária é apenas parte da história, ou é a mensagem da obra propriamente dita. Quando se fala em A Cabana, o fato mais perturbante é que muitos leitores são atraídos pela mensagem teológica do livro, e não enxergam como ela é conflitante com a Bíblia em tantos pontos cruciais.
Tudo isso revela um fracasso desastroso do discernimento evangélico. É difícil não concluir que o discernimento teológico é agora uma arte perdida entre os evangélicos – e essa perda só pode levar à catástrofe teológica.
A resposta não é banir A Cabana ou tirá-lo das mãos dos leitores. Não devemos temer livros – devemos lê-los para respondê-los. Precisamos desesperadamente de uma restauração teológica que só pode vir através da prática do discernimento bíblico. Isso requer de nós identificarmos os perigos doutrinários de A Cabana, para termos certeza. Mas nossa tarefa verdadeira é reaproximar os evangélicos dos ensinos da Bíblia sobre essas questões e cultivar um rearmamento doutrinário dos cristãos.
A Cabana é um alarme para o cristianismo evangélico. É o que dizem afirmações como as de Timothy Beal. A popularidade desse livro entre os evangélicos só pode ser explicada pela falta de conhecimento teológico básico entre nós – uma falha no próprio entendimento do Evangelho de Cristo. A perda trágica da arte do discernimento bíblico deve ser assumida como uma perda desastrosa de conhecimento bíblico. Discernimento não consegue sobreviver sem doutrina.

Traduzido por Filipe Schulz | iPródigo